sexta-feira, agosto 18, 2006

Game Over

Vim dirigindo confuso. Não foi fuga, apenas consegui o que queria: até que enfim um morto. Não tinha mais nada para fazer no hospital. Enquanto não for por obrigação, eu mesmo faço o meu horário. Em casa, a mente teimava em desobedecer o corpo cansado e e lutava contra sentimentos que insistiam em buscar espaço. Tive que levantar e escrever.
Ele deu entrada no centro cirúrgico agora já fazem mais de 12 horas. Dor abdominal profunda. Diagnóstico óbvio: apendicite, assim trouxe o SAMU. Na emergência enviaram para uma cirurgia exploratória, que de tanto explorar encontrou o que não queria, nem sequer imaginava: um aneurisma de aorta. Roto.
Isto muda tudo: prótese, plaquetas, correria. Daí para frente, como que se ele decidisse me dar uma lição (como sou egocêntrico), segue-se a sequencia interminável de notícias ruins, do hematócrito que chegou a 13 à saturação que chegou 40%. A primeira parada e a mão do cirurgião vai direto ao coração, como em um poema mal feito, insistindo em uma rima sem nexo, de tanto apanhar o coração parecia desistir de bater.
Cedo demais para sair da sala, uma nova parada na porta do CTI. O intensivista fez menção de subir em cima, e o cirurgião quis abrir de novo. Mas nada, nada foi feito. Nada podia ser feito, todos sabiam disto.
Ele me olhava, esperendo que o branco dos meus olhos ficasse vermelho, percebi um prazer sarcástico nele, que foi-se, pois só agora mudaram de cor, vencidos pelo cansaço. Por um momento ele esqueceu que perdera o paciente, pelo menos alguma dor eu consegui aliviar. Eu que tanto tenho criticado os médicos, desta vez eu não posso deixar este meu último comentário ser mal interpretado: ele fez de tudo para salvar aquela vida, mas preocupava-se agora com as próximas vidas: as que viriam em minha mão, seu discípulo, pelo menos por uma noite.
Todos fizeram de tudo para salvá-lo. E quando ele morreu, eu não posso dizer o que sentiram, apenas o que eu senti. Como na visão de um de meus críticos, a vida, pelo menos a que está em cima da mesa, diz-ele, para mim não passa de um joguete. Talvez. Talvez eu racionalize a vida para evitar enfrentar a morte. Talvez sejamos doutrinados a isto. Hematócrito, saturação, pH, pressão, frequência... Números. Mas na mesa está alguém igual a mim, igual ao que eu fui, sou ou serei. Com pessoas iguais as que me amam esperando lá fora.
E nós jogando. Aumentando isto para diminuir aquilo. Desta vez perdemos o jogo. Esta foi a sensação que eu tive primeiro. Agora eu não sei mais. Por mais que eu deteste admitir, meu crítico está certo.
Mas aqui, neste centro cirúrgico, o que importa não é salvar vidas? Amenizar o sofrimento, paliative care, isto é para depois, se ele sobreviver à mesa.
Sid

9 comentários:

Leila Silva disse...

Continuo seguindo...muito interessante.
Abraços

Saramar disse...

Hoje tive o prazer e a agradável surpresa de conhecer o seu blog.
Li rapidamente este último post e dei uma olhada, também rápida nos anteriores.
É tudo muito interessante e, acima de tudo, muito humano.
Gostei demais.
Voltarei para ler com calma.
Obrigada.

Beijos e boa semana para você.

Anônimo disse...

Porra!
Confundir um aneurisma com uma apendicite!!!
Tu estuda onde??????

Anônimo disse...

Prezado Sid. Continue escrevendo. Viu? Seus textos são coerentes, seu discurso é muito humano, e sua angústia é de todos nós. Um abraço da sua admiradora e amiga. Maria José Limeira.

Anônimo disse...

-Cara, sou médico também...
-Sua sede de ser sincero é patética. Você além de fazer uma grande anti-propaganda, faz-se como um profeta, alguém que veio para revelar a "verdade" que existe atrás da medicina. É contrangedor ver num portugês tão tacanho as expressões pré-adolescentes de um jovem médico frustrado. Sua decepções, seus medos, suas reles fraquezas, sua imaturidade, seu desequilíbrio e falta de raciocínio judicioso, bom senso e humanidade são revelados a cada linha destes textos. Vc parece fazer uma alta-piedade-terapia neste blog. Vc não só se diz, como parece pretender ser medíocre como médico, mas não, vc não está feliz... com esforço parece tentar ser um pior humano. Fico espantado como vc tem o mau hábito de responder as críticas mais lúcidas com escárnio... vc, um moleque, se vê como um Deus sendo médico... que merda ! Cara, vc é pior do que as sujeiras que vc tanto narra nestas "crônicas" escatológicas. Vc fez prova de redação no vestibular ?? Como passou ???... Sinceramente, acho que vc não deveria me responder. Pensar já seria o bastante...
Alberto

Anônimo disse...

-Você é tão tosco que prefere covardemente se manter no anonimato. Te desafio a se identificar, aliás... te desafio muito mais, a revelar este ser doente que você é para todos. Faça alguém parar você... ou pelo menos se mate. Pare de der risos irônicos ao ler os comentários e seja uma vez corajoso. Saia da confortável posição atrás doo computador. Se mate!! Morra cara!!
Patrícia (psicóloga)

Anônimo disse...

"Sei que nada sei. Sei que sou animal, ridículo e limitado. Arrogante, cruel, vaidoso, egoísta e egocêntrico. Ou talvez humano, apenas demasiadamente humano. Hoje me ensinam a brincar de Deus entre os símbolos da dor, da morte, da luta, da cura e da doença para um dia assumir o dever de escolher entre a vida e a morte de um ser igual a mim"
HUAHUAHUAHUAHUA !! Só rindo mesmo !!! Ô seu moleque, vê se toma coragem e mostra a sua cara !
Doutor Carlos Vidal

Anônimo disse...

CARALHO CARA !! VOCÊ É RIDÍCULO COMO ESCRITOR E COMO MÉDICO!! PQ VC NÃO LARGA ESSA MERDA!! TÁ NA CARA QUE VOCE APENAS TEM UM GOSTO MÓRBIDO PELA COISA GOSTA. VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO TEM O MENOR SENSO DE RESPOSABILIDADE PELO QUE DIZ, E O PIOR, NÃO PÕE A TUA CARA A TAPA! RAPAZ, MINHA ÚNICA ESPERANÇA É QUE VOCÊ DESISTA DO CURSO OU SE MATE LOGO! POUPE O MUNDO DE VOCÊ. QUE MERDA! PRA VOCÊ TUDO QUE LHE CERCA NÃO PASSA DE CARCAÇA. A SUA HUMANIDADE É PODRE. MORRA!!!!!!!

Anônimo disse...

Muito bom este blog! Parabéns...

E a profissão que escolheu, a mais bela de todas! És iluminado...

Força, sempre!
De uma doentinha... www.abulimia.weblogger.com.br